Podcast: Ainda Estou Aqui e o juízo desinteressado
Como deixar de lado as interferências externas, as ideologias, as lutas da vida real ao discutir um filme como este?
Quando as pessoas, alienadas de si mesmas e transformadas em engrenagens de um sistema, deixam de ter tempo para o ócio criativo, lazer e contemplação, o parâmetro de respeitabilidade de um objeto artístico passa a ser a sua utilidade. Como se um filme, por exemplo, precisasse ser algo a mais para que o consideremos bom. Algo a mais que, é importante salientar, restringe-se sempre a sua temática, nunca a sua forma. A arte que trata de um assunto importante seria boa automaticamente, independentemente de como trata esse assunto. Porque se torna preciso que ela sirva para alguma coisa.
É o oposto do tal do “prazer desinteressado” do Kant. O que pode indicar que, no capitalismo, é difícil não ter a necessidade de possuir ou consumir o objeto de prazer. De toda forma, Aristóteles diria que a Filosofia é a maior das ciências justamente por não estar subordinada a nada nem a ninguém. E poderíamos dizer o mesmo sobre a arte ou sobre o cinema mais especificamente. Mas, não precisar servir para nada não é o mesmo de não poder servir para nada. Às vezes, a expressão “filme importante”, que costuma não dizer verdade alguma sobre cinema, pode ser usada adequadamente, ainda que seja só o pontapé inicial para o debate. É o caso de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles.
Como deixar de lado as interferências externas, as ideologias, as lutas da vida real ao discutir um filme como este? Ainda mais quando, pouco depois de sua estreia, são reveladas as tentativas de golpe e assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes planejadas pelos fascistas do exército brasileiro para favorecer Jair Bolsonaro. Difícil de acreditar que um juízo desinteressado, uma análise imparcial (que por si só é impossível) seja a melhor opção.
É este o assunto do episódio “Ainda Estou Aqui e o juízo desinteressado”, que pode ser conferido abaixo ou em qualquer plataforma digital, clicando aqui.
Já a crítica completa do filme pode ser lida no Espaço Rasgo!
Você leu "A Utilidade do Inútil", de Nuccio Ordine? Enquanto ouvia, especialmente sobre a (in)utilidade da arte, lembrei desse texto.
Quanto a ser ou não um grande filme, eu gosto. Mas é um filme sem lacunas; nada fica subentendido. A direção conduz o espectador pela mão, guiando-o sobre o que deve sentir.
Gostei de ouvi-lo.